"O PSD precisa mostrar à sociedade civil que é um partido em quem os portugueses podem confiar."
Pedro Melo Lopes na Assembleia da República. Créditos: João Pedro Fotografia
Pedro Melo Lopes, 33 anos, médico e Deputado do Grupo Parlamentar do PSD na Assembleia da República, eleito pelo círculo eleitoral do Porto. Como é que começou o teu interesse pela política?
Comecei-me a interessar e a participar em reuniões de política pelos 16 anos, porque essencialmente discordava das políticas de juventude que eram seguidas pela minha presidente de câmara à época que era uma figura incontornável da política portuguesa, Fátima Felgueiras.
Tinha um espírito proativo e nunca fui de me resignar e aceitar o que parecia estabelecido à partida.
Sempre tive vontade de fazer a diferença para que eu e os meus colegas tivéssemos uma juventude mais feliz em Felgueiras.
E como foi esse percurso?
Fui sempre um aluno atento e interessado nos anos mais básicos da escola. Depois passei pelas associações estudantis, fiz parte do conselho pedagógico da escola secundária e já era militante da JSD.
Tive várias atividades extra curriculares como a música, natação, polo aquático e joguei durante 10 anos futebol no clube da outra cidade do concelho, a Lixa, que era a terra do meu pai. Dividi muito o meu tempo entre a Lixa onde jogava e Felgueiras onde estudava e vivia. Fiz bons amigos para a vida e sempre tive uma relação de proximidade com as pessoas duas cidades.
E como foi que passaste de militante da JSD para vereador do PSD?
Era eu dirigente da JSD em 2017 quando o Presidente da Câmara me convidou para integrar a lista de vereadores nas eleições autárquicas de 2017.
No que parecia ser o início de um percurso político, com a derrota inesperada nas eleições de 2017, acabei apenas por ser vereador da oposição em algumas reuniões de executivo.
Apesar de não ser a figura principal, essa derrota eleitoral abalou-me muito e em 2021 estive fora de qualquer candidatura autárquica apesar de pertencer à comissão política concelhia do PSD.
Em 2022, após ter sido eleito deputado, fui desafiado por alguns militantes a liderar a comissão política do PSD Felgueiras para tentarmos engrenar uma nova equipa com novas ideias e com propostas alternativas para a nossa terra.
Pedro Melo Lopes na Sala das Sessões da Assembleia da República. Créditos: João Pedro Fotografia
Que conselhos gostarias de dar aos jovens para uma maior participação política?
Eu sou pragmático e o que diria a qualquer jovem deste país é que se têm vontade de mudar o mundo esse é o primeiro passo para querer estar na política. Então não desistam. Se se sentem inconformados com alguma situação nas vossas cidades, nas vossas freguesias, não hesitem em questionar, em participar e em intervir. Isso pode acontecer nas associações locais e também nos partidos políticos.
Não tenham medo de pertencer a um partido político, se não deixarem de ser vocês próprios e se se guiarem sempre pelos vossos princípios e convicções.
Como é que defines o estado atual da saúde pública em Portugal?
A saúde em Portugal está como todos os dias nos entra em casa pela TV, com problemas nos vários níveis de cuidados.
Temos mais de 1,5 milhões de portugueses sem médico de família. Temos cerca de 5 milhões de portugueses com seguros ou subsistemas. Somos da OCDE o país onde as famílias mais gastam com saúde. E ainda é mais estranho que este contexto surja depois de uma governação com partidos de esquerda que acabaram com todas as PPP (Parcerias Público-Privadas) hospitalares em nome da defesa de um SNS público e que reclamam sempre como prioridade o investimento nesta área.
Nunca pensei na minha vida ver urgências fechadas e ver negado aos cidadãos o direito de entrar num hospital, enviando-os para hospitais a centenas de km.
É lamentável o estado a que chegámos. Temos aqui um exemplo claro de que as políticas de esquerda não satisfazem as necessidades dos portugueses.
Intervenções de Pedro Melo Lopes em debates parlamentares da Assembleia da República.
Créditos: João Pedro Fotografia
Que medidas defendes para melhorar o SNS?
Defendo que se façam mudanças em 3 pilares fundamentais.
Na literacia, na promoção da saúde e no modelo de gestão. Sou dos poucos que falo sempre no parlamento em literacia para a saúde. As pessoas têm de saber mais sobre o seu estado de saúde, têm de saber mais mais sobre a fisiopatologia das principais doenças e ainda como se devem orientar no nosso sistema de saúde. Este é o primeiro passo para otimizar a utilização dos nossos recursos.
Depois, na promoção e a prevenção da saúde, além de cada português ter um médico de família para ser o seu gestor e primeiro interlocutor com o sistema de saúde. Também são necessários incentivos e programas específicos que visem estilos de vida e hábitos mais saudáveis.
Programas para envelhecermos com mais saúde parecem-me fundamentais para a sustentabilidade do nosso sistema de saúde.
E por fim, a revisão urgente do modelo de gestão das unidades de saúde. É necessária a integração das unidades de saúde para uma melhor articulação entre os vários níveis de cuidados. Alem disso, o financiamento das unidades de saúde não pode continuar a ser feito com base na produção dos hospitais, mas sim com base em resultados e nos ganhos para a saúde que essa atividade tem para a população. E por fim, mas não menos importante e associado à gestão, é necessário rever o modelo de remuneração dos profissionais.
Se estes três pilares não forem alvos de uma mudança estrutural a breve prazo, vamos ter uma pressão desmedida sobre o nosso sistema de saúde provocada pelo envelhecimento da população e aumento da carga de doença que serão agravados por problemas como o desgaste dos profissionais de saúde e pela a falta de atratividade das carreiras. O SNS será insustentável.
Como foi exercer medicina em tempos de pandemia?
Foi um privilégio servir o meu país e as pessoas durante a pandemia. Era tudo desconhecido e estávamos todos com muito receio. Foi o espírito de entreajuda e de partilha entre profissionais de saúde que permitiu que, com uma dose de esforço acrescido, se conseguisse responder de forma tão positiva.
No início fui viver para um hotel, perto do hospital, para não voltar todos os dias para casa e não correr o risco de infetar os meus pais e outros familiares.
Pedro Melo Lopes no Centro Hospital do Baixo Vouga
Quais são as principais reformas que gostarias de ver implementadas em Portugal?
Na saúde como já defendi nas questões anteriores é fundamental fazer mudanças
estruturais porque o nosso sistema de saúde não vai aguentar a pressão demográfica.
Mas também na educação que é um pilar fundamental da nossa soberania.
O estatuto da carreira docente foi aprovado por Cavaco Silva, num governo do PSD, que foi o primeiro e se calhar o único que operou mudanças estruturais na educação, revolucionando-a.
Agora precisamos da coragem de um “novo” Cavaco Silva. A escola já não são os quadros a giz e os professores sentados ao fundo a falar em pé.
Os nossos decisores tem de perceber de uma vez por todas que o ensino mudou e tem de acompanhar as tecnologias e a capacitação que as crianças têm hoje.
Como está a ser a tua experiência como deputado da nação?
Gratificante. Representar pessoas é uma responsabilidade mas ao mesmo tempo uma honra muito grande.
Na área que mais acompanho nos trabalhos parlamentares, a saúde, tenho muito trabalho pela frente porque prometi aos profissionais total empenho na luta pelas suas condições de trabalho e aos doentes igualmente uma incessante luta pela dignidade do seu tratamento.
O nosso trabalho muitas vezes esbarra na maioria absoluta do partido socialista que não está muitas vezes interessado em discutir propostas concretas.
Mas continuarei a lutar sempre sem abandonar os meus princípios e as minhas convicções.
Que mensagem gostarias de dar aos militantes do nosso PSD?
Que se unam! O PSD precisa sobretudo de mostrar à sociedade civil que é um partido em quem os portugueses podem confiar. E gerar essa confiança passa, também, por mostrar lá para fora a unidade que tem faltado ao partido. Além disso, o PSD tem de manter a sua irreverência e o seu espírito transformador. Por isso, os nossos militantes com ideias, com vontade de construir um projeto vencedor e com provas dadas nas várias áreas devem continuar a engrandecer o partido. As palavras de ordem são unidade, qualidade e credibilidade!
Intervenção de Pedro Melo Lopes numa iniciativa do PSD de Felgueiras, a apresentar o seu primeiro filho a Luís Montenegro e num jantar do PSD com Luís Marques Mendes e Hugo Soares
Qual é o teu sonho para Portugal?
Eu sonho com um Portugal onde o papel do estado possa ser também o de fazer as pessoas felizes.
Os portugueses vivem com a maior carga fiscal de sempre. O estado é muito célere a cobrar impostos, mas é cada vez mais redutor na forma como nos presta os serviços públicos. Isso gerou uma desconfiança nas famílias e nas empresas na hora de pagar impostos porque de certa maneira sentem que não existe o devido retorno. Por isso, sonho com o dia em que o estado seja um parceiro que não nos gere stress, mas sim felicidade.
CAPA DA REVISTA AQUI HÁ FUTURO! Volume 003 - Fev 2023.
Percorra a galeria de imagens com as páginas da entrevista com Pedro Melo Lopes na revista Aqui há Futuro!
Pedro Fonseca
Presidente da associação Aqui há Futuro!
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