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Entrevista a Pedro Marques Lopes

Pedro Marques Lopes é licenciado em direito, comentador em vários órgãos da comunicação social há mais de 15 anos, como na SIC Notícias, TSF e colunista da revista visão.

Pedro Marques Lopes - Créditos: Fotografia Revista Visão

Foi gasolineiro, merceeiro, bancário, vendedor de linhas telefónicas, cauteleiro e por fim advogado. Como é que acabou a tirar a licenciatura em advocacia?

Nunca fui advogado. Licenciei-me em Direito e apesar de ter gostado do curso e me ter ajudado nas minhas várias atividades, fui para lá por mero acaso.


Habituámo-nos a ver o Pedro Marques Lopes no Eixo do Mal da SIC Notícias e a ouvir no Bloco Central da TSF. Como é que descobriu a sua vocação como comentador político?

Sempre gostei e me interessei por política, nas suas várias dimensões. Mas, mais do que isso, gosto muito de tudo o que envolve comunicação social.


A dada altura da minha vida, depois de ter feito muitas outras coisas, decidi que queria ter intervenção política na forma de comentário. Não era óbvio que o conseguisse já que vinha de um meio completamente diferente, não conhecia rigorosamente ninguém no meio e não pertencia de todo à chamada bolha mediática. Seja como for, e passe a imodéstia, acho que correu bem e foram-me dados espaços nos jornais, na rádio e na TV.


Apelando a essa veia, que retrato faz do país político à data de hoje? Com tantos casos a envolver membros do governo, considera que há o risco de estarmos perante uma crise sem precedentes no que diz respeito ao normal funcionamento das instituições?

Estamos perante uma crise sem precedentes no que diz respeito à atração de pessoas para a política e para o serviço público que lhe subjaz. De igual modo, também vivemos uma profunda crise de mediação. A segunda ajuda muito a primeira.


A esmagadora maioria dos casos são consequência da fragilidade no funcionamento das instituições, da arrogância e da informalidade na forma de atuar - que infelizmente as maiorias absolutas provocam - mas pouco importantes.


Tornam-se significativos e parecem enormes escândalos fruto não só de um ambiente mediático tóxico que procura o escândalo por falta de vontade e dinheiro para fazer jornalismo, e da troca por parte dos políticos da verdadeira política pela intriga politiqueira.

Estes são, neste momento, os problemas centrais e têm, claro está, a capacidade de gerar entropias que podem afetar o tal regular funcionamento das instituições. No entanto, estas continuam a funcionar sem problemas de maior.

Bloco Central com Pedro Siza Vieira e Pedro Marques Lopes, onde analisam os temas, os protagonistas e as tendências da semana política. Moderação de Judith Menezes e Sousa, Sexta-feira, depois das 19h00, em tsf.pt e em podcast.

Qual é a sua opinião sobre a governação do Partido Socialista ao longo dos últimos 7 anos?

O governo da geringonça foi, contra as minhas previsões, bastante razoável, com evidentes limitações na implementação de algumas mudanças necessárias (detesto o termo reformas estruturais) devido aos acordos com o BE e PCP

O governo depois da conquista da maioria merece uma nota negativa.


Que consequências é que o atual panorama político nacional (e internacional) poderá ter na qualidade do nosso regime? Poderá a própria democracia vir a estar em causa, à semelhança do que aconteceu na segunda década do século passado?

A democracia é um sistema muito frágil. Entre outras razões porque na sua essência está o respeito por forças que o querem destruir. É uma espécie de luta em que os democratas entram sempre em desvantagem.


O crescimento de forças antidemocráticas é um dado inegável. O desencanto dos pais face à perspetiva de os seus filhos irem viver pior que eles, a presença no espaço público de vozes muito presentes que garantem que vivemos num mar de corrupção, a incapacidade do Estado parar o decréscimo de qualidade dos serviços públicos sem que sacrifique ainda mais as populações, entre outros dados, contribuem para que as pessoas se estejam a desencantar com a democracia.


Importa perceber que as pessoas associam democracia a bem-estar – foi necessário, aliás, o plano Marshall para que a democracia tivesse futuro no pós-guerra – e os direitos humanos e políticos que ela assegura tornam-se secundários quando há uma diminuição da qualidade de vida.


No entanto, não só as instituições democráticas estão mais consolidadas do que na década de 20, como a capacidade dos Estados de responder a crises financeiras é muito maior – vide crise de 2007 e da pandemia.


O meu maior receio é o que poderá vir dos Estados Unidos num futuro próximo. Um novo mandato de Trump teria consequências catastróficas para o equilíbrio mundial e para a saúde das democracias ocidentais. Seria infinitamente pior do que o anterior mandato. Aliás, não há maior risco para as democracias do que a situação política e social nos EUA.


É público que é social-democrata. Revê-se na social-democracia defendida pelo PSD?

O PSD só no seu início e depois esporadicamente foi social-democrata. Tem muitos social-democratas e tem defendido políticas social-democratas, mas a sua práxis não é de um partido essencialmente social-democrata. Não me lembro de alguma vez me ter assumido como social-democrata publicamente. Mas isso pouco importa!

"Eixo do Mal", programa de televisão de opinião política com Pedro Marques Lopes, Clara Ferreira Alves, Daniel Oliveira, Luís Pedro Nunes e moderação de Aurélio Gomes. Quinta-feira, às 23h00, na SIC Notícias e em podcast.

Acerca do PSD, fala-se muito do seu posicionamento ideológico. Para o Pedro Marques Lopes, o PSD é um partido do centro, centro-direita ou centro-esquerda? Ou isto é uma questão que, para si, nem sequer faz sentido?

O PSD tem sido, sobretudo, um partido muito plástico, com uma ideologia que vai variando a reboque do líder. Tão plástico que um dos recentes líderes se confessava de centro-esquerda e abriu a porta na Madeira a acordos com a extrema-direita.

No entanto, a sua raiz sociológica, os seus valores, a sua práxis é mais próxima de um partido de centro-direita europeu.


Ultimamente tem havido uma campanha muito forte, organizada e bem financiada para tornar o partido muito virado à direita. Este processo iniciou-se com Durão Barroso, mas organizou-se em redor de Passos Coelho e até conta com um grupo de comunicação, o Observador.


(utilizo os termos direita e esquerda por não conseguir arranjar melhor. Acho, porém, os conceitos anacrónicos e sobretudo com um conteúdo que variou muitíssimo desde que começámos a falar deles. Gostaria de saber o que Thomas Paine e Edmund Burke pensariam da forma como se utilizam esses termos para definir clivagens ideológicas).


Se por um acaso do destino amanhã acordasse como Primeiro-Ministro, que políticas elegeria como prioritárias para o país?

Todas as que visassem melhorar a produtividade. Neste campo, a qualificação, a formação de empresários, gestores e trabalhadores e a capitalização seria fundamental.


Educação, educação, educação.

Reformar radicalmente a Justiça (não há boa democracia sem uma boa Justiça e a nossa não é sequer razoável).

Diminuição das desigualdades.


Portugal continua a não conseguir reter os seus quadros mais qualificados. Onde é que estamos a falhar, e de que modo é que poderemos inverter este cenário?

Criar mais riqueza e distribuí-la melhor. É sobretudo aqui que estamos a falhar, mas já estivemos muito pior.

Esse tipo de processo leva gerações a inverter. É evidente que achamos que é lento, mas estamos no bom caminho.

As nossas qualificações ainda não estão ao nível dos países com que competimos diretamente e com que gostamos de nos comparar, somos pouco produtivos, há pouco capital disponível. No entanto, as nossas qualificações estão a melhorar e as novas gerações já estão ao nível daqueles países, há um aumento de produtividade e as empresas estão a ter resultados notáveis.

Lembro que as exportações passaram a representar 50% do PIB quando há 25 anos representavam cerca 25%. É verdadeiramente notável. E, atenção, o turismo ajudou muito, mas foi sobretudo em setores de elevado valor acrescentado.

"Suaves Portugueses", de Pedro Marques Lopes, uma visão de Portugal, da família, da liberdade de expressão, com um toque de humor sarcástico. Editora Marcador, 2014

Fernando Santos

Politólogo

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