Ouvi com atenção o nosso Presidente da República referir-se ao Primeiro-Ministro, Luís Montenegro como “alguém que vem de um país profundo, urbano rural, com comportamentos rurais e difícil de entender” além disso, “também é lento”.
Pois, permitam-me dizer o seguinte: Eu, como a maioria dos portugueses, somos rurais e lentos.
Somos rurais porque esse foi o grande desígnio de Salazar; um Portugal rural, lento, crente e obediente. Para o bem e para o mal, assim continuamos.
Somos lentos, porque o nosso clima ameno e amigável nos fazem ser um povo sereno, dócil e indolente. Foi por essa razão que uma elite cosmopolita, iluminada e escolhida por ele próprio, um rural emigrado de Santa Comba Dão para a capital, do qual Marcelo Rebelo de Sousa é um subproduto, foi capaz de nos governar durante quase cinco décadas.
Felizmente, tudo terminou no dia 25 de Abril de 1974, quando um rural determinado de Castelo de Vide, chamado Salgueiro Maia, juntamente com meia dúzia de outros rurais, tomou de assalto o poder e depôs o regime dos alfacinhas e muito citadinos Marcelo Caetano e Américo Tomás e instaurou a democracia dos rurais.
O meio rural é lento, porque lenta é a Natureza que o define e condiciona. A sabedoria também é lenta, porque leva tempo a aprender. O bom senso é igualmente lento, porque implica reflexão, tal como a moderação, que implica contenção, a negociação, que implica cedências e o compromisso, que implica acordos.
Hoje a lentidão é difícil de entender. Procuram-se resultados ao virar da esquina. Vive-se num Mundo de hipervelocidade, do consumo imediato, da bolha mediática e de um Presidente hiperactivo, de verbo desenfreado e mente brilhante.
Para Marcelo, nascido na freguesia lisboeta de São Sebastião da Pedreira, o meio rural é ameaçador, indecifrável, enigmático e talvez incompreensível e inexplicável. Para nós, os rurais, pelo contrário, ele é acolhedor, claro, confiável, transparente e autêntico.
Assinado,
Vítor Carmona, um perfeito rural de Vila Velha de Ródão.
Comments