Se há algo do qual enquanto sociedade devemos ter repudio e profunda vergonha é do drama que nas nossas fronteiras vivem todos aqueles que, na esperança de uma vida melhor, mais justa, mais livre e sem medos, tudo estão dispostos a arriscar, desde as suas próprias vidas até à dos que mais amam.
Arriscam entrar numa Europa que, apesar precisar deles, vive no medo de despertar os seus mais ignóbeis fantasmas e, contrariando toda a lógica, todos os seus valores, princípios e até as suas próprias origens, prefere ignorar e deixar morrer aqueles que, na busca da sobrevivência, também a poderiam salvar.
Haverá alguma pessoa que tenha tido oportunidade de escolher onde e de quem nascer, para que possa reclamar direito próprio sobre o local de seu berço, a sua cor como superior ou mais forte o seu género?
Não, nem uma. Ninguém escolhe onde ou de quem nasce, é apenas a pura e cega sorte, ou a sua falta.
Será justo por tão razão tão arbitrária e aleatória qualquer ser humano, igual a todos os
demais, ter condicionada toda a sua existência? Será assim tão hediondo o crime que cometeu ao nascer onde e de quem nasceu para que lhe seja vedada qualquer segunda oportunidade?
Do que temos medo? “Ameaçam a nossa segurança”, dizem uns - mas haverá ser humano que possa constituir qualquer perigo depois de, por tão efémera possibilidade, expor tudo que mais ama a tamanhos riscos? “Ameaçam o futuro dos nossos filhos”, dizem outros - vão roubar o trabalho que não queremos, os ofícios que já não sabemos ou o esforço que já não precisamos fazer? Cobardes balelas sem qualquer fundamento, meros fantasmas. Temos tanto medo que o extremismo se apodere da nossa sociedade que cada vez mais nos convertemos nos extremistas que evitamos, qual bêbado a desviar-se do poste que o persegue.
Faltar coragem aos nossos governantes para assumir políticas concretas, corretas e justas não espanta ninguém, afinal, é como em tantas outras matérias. Mas neste tema não, pois trata-se de vidas humanas e não demos o nosso voto para que em nosso nome, por uma segurança nunca ameaçada ou futuro duvidoso, possamos deixar morrer horrorosamente quem nos pede apenas a oportunidade de uma vida condigna.
Não demos o voto a ninguém para nos fazer passar tão profunda vergonha, tão desumana, tão mesquinha e desalmada desumanidade, que um dia com toda justiça nos será cobrada, se não desde logo pelos nossos descendentes, de certeza pelos tribunais da alma seja qual for a religião que professemos.
Os campos de concentração e extermínio nazis tinham populações vizinhas, pessoas que, qual avestruzes, preferiam ignorar a barbárie que neles se passava a denuncia-la. Após a descoberta ficaram expostas à vergonhosa cumplicidade do seu silencio. Não, esse dedo não podemos deixar que nos apontem. Não! Esse tipo de cumplicidade nunca mais podemos ter ou permitir que aqueles que elegemos para nos governar nos façam sentir.
Nunca um social-democrata, um humanista, poderá ser um extremista ou compactuar com aqueles que deste flagelo, que se impregna e cada vez mais mancha a dignidade de todos os Europeus, fazem sua bandeira, seja porque razão for.
Somos pessoas de bem, fieis aos nossos valores e princípios, aceitamos todos que igualmente os respeitem, mas combatemos feericamente todos que os desprezem. É uma pequena diferença? Talvez, mas faz a diferença toda e por isso, por essa singela diferença, é preferível não ganhar uma eleição, a perder tudo numa.
Vitor Gandarela Vasques
CEO Co-Up | Business Activation
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