Este é um governo de bodes expiatórios e passa-culpas. Inicialmente para qualquer problema a culpa era do Passos, dos reguladores, da UE, e agora é das greves, da inflação, da guerra e claro, das empresas.
Para este último caso, o raciocínio dos especialistas em marketing que aconselham o governo é simples: há poucos votos nos empresários e altos quadros das empresas, pelo que estas podem ser prejudicadas à vontade em benefício dos mais variados populismos.
Foi assim com a subida dos preços dos combustíveis, que era segundo Costa o resultado das enormes margens praticadas pelas gasolineiras.
O mais recente exemplo é o caso do alojamento local.
Este sector, constituído por milhares de micro-empresários, é agora acusado pelo atual estado da habitação. Investiram as suas poupanças para aproveitar (e bem) o filão do turismo, baseados em expectativas que agora poderão ser goradas com as novas medidas anunciadas pelo governo.
Em 2030 as licenças poderão não ser renovadas e o retorno destes investimentos a longo prazo ficará em causa. Ficam também esquecidos todos os benefícios que o AL trouxe no passado, por exemplo, aos ex-presidentes da câmara de Lisboa, agora no governo.
Futuramente a responsabilidade será das empresas de distribuição se o preço do cabaz dos 44 produtos básicos continuar a subir apesar da eliminação do IVA.
"Fizemos a nossa parte, outros terão a culpa", dirá o governo. Se efetivamente descerem, será por outras razões que lhes serão alheias, mas ficarão com louros, claro.
As empresas têm, ao longo desta governação, sido cinicamente aproveitadas para arcar com as mais diversas responsabilidades do estado, até ficarem completamente afundadas em riscos e custos escondidos que não lhes dizem respeito, causando progressivos problemas de eficiência e rentabilidade.
Sabia que cabe às rent-a-car a cobrança das portagens aos estrangeiros que passam com os seus carros nos pórticos das ex-SCUT ou na faixa da Via Verde sem o equipamento? Claro que quando a conta chega à empresa, uma semana depois do cliente ter devolvido o carro e voado para o seu país, esta fica com uma capacidade muito limitada de o obrigar ao pagamento.
Há neste momento milhões de euros em incobráveis na contabilidade destas empresas porque não há a vontade política de resolver este problema. Este é só um de muitos exemplos da desresponsabilização constante da governação.
A forma de tratar as empresas tem de mudar, uma vez que são o centro e o motor da economia, essenciais para a melhoria das condições de vida de todos.
A sua defesa é em última análise uma importante contribuição para a manutenção dos direitos e garantias dos trabalhadores e do bem-estar social. O problema não é só uma questão de impostos - que sim, são altos - mas principalmente o ambiente de desconfiança mútua, entre estado e empresas, que dificulta a prosperidade dos negócios. Nunca os empresários sabem qual é a próxima surpresa desagradável que o governo lhes reserva, disfarçada de medida progressista, retraindo-lhes a vontade de investir e arriscar em novas oportunidades. Seria fundamental criar condições para uma justiça célere, um regime fiscal estável, instituições públicas que fossem colaborantes com as entidades privadas, mas sobretudo uma cultura de valorização do empreendedorismo que reduzisse os riscos de negócio e criasse confiança no mercado.
As associações empresariais também precisam de se dar ao respeito. Se não forem elas a defender as empresas, ninguém o fará. Em Outubro passado serviram para um golpe publicitário, ao assinarem um “acordo de rendimentos e competitividade” com a UGT e o governo. Agora, no âmbito da “Agenda para o trabalho digno”, o PS aprovou na AR mais de 150 alterações à lei laboral que as associações consideram impossibilitar os objetivos do acordo, sem que sequer tenham sido ouvidas.
É preciso forçarem a revisão das condições do acordo à luz da nova realidade e que, da próxima vez, não se esqueçam de como foram usadas para não voltarem cair na esparrela.
Sei que há por aí muitos maus exemplos, aproveitados para suportar um velho discurso de esquerda incessantemente repetido, que diz que os empresários são capitalistas imorais e que só querem o lucro. Mas não se pode tomar a parte pelo todo.
Precisamos de um governo que governe com as empresas, de olhos postos no futuro do país, sem arranjar desculpas para a incompetência demonstrada nos últimos sete anos. Ou que saia e dê o lugar a outros.
André Mega Fernandes
Empresário
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