Diana Soller, doutoranda em Estudos Internacionais na Universidade de Miami. Mestre em Relações Internacionais pela Universidade Lusíada. Investigadora no Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI).
Com a recente guerra na Europa, começamos a conhecer melhor Diana Soller, e o seu conhecimento em matéria de política internacional é imenso. Como é que nasceu o seu interesse por estes temas?
De forma profissional um pouco por acaso. Sou licenciada em literatura e uns anos depois de trabalhar na área senti-me insatisfeita e voltei para a faculdade para fazer uma pós-graduação em relações internacionais. Não ia à procura de nada em concreto, apenas estudar um assunto novo entre os vários que me interessavam.
No entanto, muito rapidamente percebi que a política internacional não só me fascinava, como havia ali uma vocação académica que nunca imaginei que existisse. A minha primeira reação a todas estas novidades foi ler. Lia muito, com a sensação que tinha de apanhar um comboio cheio de carruagens. Queria aprender tudo – teoria das relações internacionais, que ainda hoje é a área de investigação que mais gosto, história, política, teoria política. Da pós-graduação passei para o mestrado, comecei a trabalhar como investigadora, e uns anos mais tarde, depois de muitas leituras, acabei para viajar para os Estados Unidos para fazer o doutoramento.
Na verdade, a minha entrada no mundo da política internacional não foi pensada. Aconteceu. Tive a sorte de me ter cruzado com algumas pessoas que acharam que havia algum potencial em mim e de ter um conjunto de oportunidades para experimentar e concretizar este meu gosto e interesse que continua intacto desde o primeiro dia. E o volume de leituras também.
Carlos Gaspar, seu colega no IPRI-Nova, afirmou que “A invasão russa da Ucrânia foi uma espécie de ‘11 de Setembro’ europeu”, o momento em que os cidadãos deste extenso continente “perceberam que a guerra tinha voltado à Europa”. Concorda com esta análise?
Em grande medida sim. Mesmo para quem insistia há anos, como eu, que os estados europeus não deviam ceder à tentação do desarmamento, e que a guerra, na Europa ou noutro sítio qualquer, não estava obsoleta, a invasão da Ucrânia foi um momento definidor das nossas vidas e do nosso mundo, como o conhecíamos.
As opiniões públicas dos países europeus intuíram esta mudança de forma muito rápida e significativa. Sem grandes esforços dos governos perceberam que a sua vida ia mudar e perceberam até, intuitivamente, que para bem do nosso futuro coletivo era preciso travar a Rússia na Ucrânia para não vivermos um mal maior.
Quanto às elites tem sido um processo de aceitação mais lento e complicado. Estava enraizada na cultura estratégica europeia esta ideia de paz perpétua, de que tinha sido superada a era dos conflitos armados, e que a Europa tinha de se preocupar essencialmente com os assuntos da paz, como a normatividade, da manutenção da paz no estrangeiro e do desenvolvimento político-social doméstico dos estados quer na Europa quer na sua vizinhança.
A mudança foi abrupta e chocante, tal como no 11 de Setembro – a comparação é muito feliz. Mas a Europa está a reagir mais lentamente nesta aprendizagem de poder. Ainda que haja progressos notáveis, há muito trabalho pela frente, quer no que diz respeito à mudança de mentalidades dos líderes, quer a militarização dos estados europeus. Apesar das evidências ainda há líderes muito reticentes em dar os passos que são efetivamente necessários para prosseguir num novo paradigma em que a segurança europeia está, de facto, ameaçada.
Veremos também de que forma o pensamento europeu, na generalidade, vai evoluir. Emmanuel Macron deu recentemente uma entrevista, publicada no Politico, que mostra que, na verdade, apesar da União entre a maioria dos estados europeus quanto à Guerra da Ucrânia, ainda há poucos consensos em relação a outra matérias fundamentais como a autonomia europeia, a relação transatlântica, a relação com a China e mesmo a relação com a Rússia. Espero que a entrevista não seja uma viragem relativamente a um certo consenso que se estava a formar entre as elites europeias. Sem ele e, na minha opinião, sem um forte laço transatlântico, será tudo muito mais difícil.
Os países europeus viveram durante décadas sob a ilusão da paz eterna, e desinvestiram sucessivamente nas políticas de defesa. Vamos a tempo de recuperar o tempo perdido? Que medidas são urgentes de adotar a nível da política de segurança e defesa comuns?
Não me parece que tenhamos escolha. Há uma palavra que parece proibida na Europa, mas que me parece a mais adequada. Agora temos um inimigo. A Rússia, na sua retórica e ação política transformou-se, por sua livre vontade, num inimigo da Europa. Não me parece que seja possível viver com o mínimo de estabilidade com um inimigo com capacidade nuclear sem termos capacidades de dissuadir a Rússia de nos atacar. Não me parece, no entanto, que o caminho seja uma política de segurança e defesa comum. Penso que não só é mais racional como mais eficaz que esse caminho se faça no seio na NATO. Em primeiro lugar, por uma razão muito simples: as capacidades europeias vão demorar a construir e o chapéu de chuva de segurança da Aliança Atlântica é, efetivamente, o que dissuade Moscovo neste momento.
Em segundo lugar, porque é altamente conveniente para a Europa tornar a NATO uma aliança defensiva imprescindível para os Estados Unidos. Washington, neste momento está empenhado na segurança europeia devido à guerra, mas também à visão ideológica da administração Biden, mas nada nos garante que este cenário se vá manter eternamente. Se a Europa for capaz de criar um pilar europeu na NATO credível, nenhum presidente norte-americano terá incentivos para descurar ou mesmo abandonar a Aliança.
Lembro que, apesar da guerra, a trave-mestra da política externa americana é a contenção da China, vista por Washington como a única ameaça sistémica à posição norte-americana no sistema internacional. Isso não vai mudar. Daí a importância crucial que transformar o laço transatlântico num laço permanente, mesmo que os EUA o façam apenas guiados por razões de interesse nacional.
Quais são os limites às ambições de Vladimir Putin? O que quer verdadeiramente este homem que muitos líderes mundiais parecerem ter subestimado?
Há dois níveis de resposta a essa pergunta. O primeiro tem a ver com a Guerra na Ucrânia. É uma guerra existencial para o regime, no sentido de que uma derrota poderá pôr em risco não só a continuidade do presidente russo, como pode pôr em causa o próprio regime. Por isso, parece-me que Putin estará disposto a ir até onde for preciso para prevenir uma derrota estrondosa. Isto não quer dizer que recorra a armas nucleares. Putin é um ator racional que sabe que o recurso a esse meio transformaria de guerra ao ponto de deitar tudo a perder. Mas no que respeita ao uso de meios convencionais e à durabilidade da guerra, penso que há espaço, ainda, para muitos sacrifícios da parte da Rússia.
Outro nível são as ambições internacionais do Kremlin. Parte da razão pela qual se desencadeou esta invasão está relacionada com ambição internacional de uma Rússia assumidamente imperialista: o controle total da sua “esfera de influência”; o expansionismo territorial; a vontade de ser reconhecida como grande potência internacional; e, em última análise, a concretização de dois ideais messiânicos: por um lado, Moscovo guardião dos verdadeiros valores europeus e incumbido da missão de liderar espiritual e politicamente a Europa em decadência moral; por outro, a Rússia como líder Euro-Asiático. Estes conceitos parecem ilusórios e ultrapassados, mas basta ler os discursos de Putin com atenção e algum contexto histórico para perceber que estas ambições são muito reais, fazem parte do excecionalismo russo, ainda que estejam muito acima das capacidades reais da Federação Russa.
Parece-me que a Guerra na Ucrânia teve efeitos perversos nestas ambições. A Rússia ainda corre o risco de sair desta guerra enfraquecida, e as suas ambições internacionais ficaram seriamente comprometidas com a sua dependência da China e os compromissos internacionais que assumiu com Pequim, que tornaram Moscovo um estado profundamente dependente da vontade chinesa.
Finalmente, parece-me que Putin foi efetivamente um líder subestimado, especialmente na Europa e nos Estados Unidos. Havia todos os indícios de que a Rússia era uma potência imperialista que mais tarde ou mais cedo iria tentar elevar o seu estatuto internacional através do uso da força e da revisão de fronteiras. Atribuo esta subestimação essencialmente a dois fatores interligados: o espírito pós-Guerra Fria que fez as elites transatlânticas acreditarem verdadeiramente na integração económica (e posteriormente política) da Rússia e ao facto de a Rússia ter oferecido condições muito convenientes para a venda de petróleo e gás que permitiu uma alimentação barata da indústria europeia. A ideia de interdependência complexa – Moscovo também precisava da Europa para manter as suas maiores fontes de rendimento – fez com que os países europeus tivessem uma tolerância a Putin que provavelmente não teriam se o contexto internacional fosse outro.
Quais serão as consequências a nível da ordem internacional, caso a Rússia seja bem-sucedida na Ucrânia, e haja uma consolidação da aliança Moscovo-Pequim?
É impossível de prever o impacto. Mas é importante perceber que uma das questões que está em jogo na Guerra da Ucrânia são as fronteiras de segurança e a arquitetura de segurança da Europa. São questões de importância vital para todo o continente.
Já há uma consolidação da aliança Pequim-Moscovo. Está a acontecer desde a apresentação do Plano de Paz da China e da visita de Xi Jinping a Moscovo com a consequente assinatura dos dois documentos orientadores da visão política e económica sino-russa das relações internacionais. Esta aproximação beneficia Moscovo no curto-prazo porque lhe garante o apoio indireto da China na Guerra da Ucrânia. Mas é bastante prejudicial a médio-longo prazo, uma vez que ficou claro que quem redigiu os documentos e quem impõe as regras do jogo desta relação bilateral é a China, o que deixa a Rússia numa posição subalterna e destrói o sonho euroasiático da Rússia.
A China, desde que consiga manter um certo distanciamento em relação à Guerra da Ucrânia, que não seja muito prejudicial à sua imagem de “produtor de ordem internacional” (daí, do meu ponto de vista, o anúncio do “plano de paz” antes das regras de empenhamento internacionais), sai reforçada. A sua visão do mundo é subscrita pela Rússia, que, apesar das limitações, não é um ator internacional despiciente.
De que forma é que esta aliança ajuda a China a alcançar as suas pretensões de controlo do Indo-pacífico?
Não me parece que a China tenha celebrado esta “parceria sem limites” para garantir a segurança do Indo-Pacífico. Na verdade, foi a Rússia de Putin que veio procurar na China um parceiro, numa política de paciência que dura há anos. Para Pequim esta parceria começa a fazer sentido, e a China começa a investir nela, quando quer começar a ocupar o papel de potência ordenadora; quando começa a assumir publicamente que quer modificar a ordem internacional erguida pelos Estados Unidos. Na verdade, o interesse da China é, como Wang Yi referiu na sua recente ida a Moscovo, uma coligação para derrubar a “hegemonia americana” e para instaurar novos valores na ordem internacional.
Daí que Pequim considere que a China e a Rússia juntas são “agentes de estabilidade”. Para uma grande potência (a China) as guerras de definição de outra grande potência (a Rússia) são praticamente assuntos domésticos. O que explica a incompatibilidade de Moscovo ter invadido a Ucrânia e simultaneamente ser visto pela China como ator de estabilidade. Não faz sentido no pensamento ocidental, mas faz sentido no pensamento chinês.
Perante todas estas transformações, assim como a recente aproximação entre o Irão e a Arábia Saudita, estaremos perante um movimento de desafio e de reorganização da arquitetura de segurança internacional e nas relações entre as principais potências mundiais? Quais são as consequências deste “reordenamento” dos centros de poder a médio e longo prazo?
A resposta a esta pergunta dava um livro. A versão curtíssima é sim, estamos numa fase da transição de poder que se materializa no declínio dos Estados Unidos e na ascensão da China. Não fazemos ideia de como vai acabar. Sabemos apenas que vamos ter anos, talvez década de tensões, incertezas e maior conflitualidade. Destas décadas turbulentas sairá uma nova ordem internacional, uma nova arquitetura de segurança.
Foi membro do Euro-Defense Portugal; membro do grupo de trabalho “A Europa como Actor Global para a Paz”. Que contributo pode dar a EU no reordenamento da arquitetura de segurança do futuro?
Já não faço parte do Euro-Defense Portugal desde 2010, quando deixei Portugal para ir estudar para os Estados Unidos. O maior contributo que a Europa pode dar à estabilidade internacional, do meu ponto de vista, é construir forças militares (e uma indústria de defesa) capazes de dissuadir inimigos regionais. A Guerra na Ucrânia, de certa forma, é uma oportunidade ímpar para operar essa mudança. Mas o processo tem sido mais lento do que deveria e com percalços, nomeadamente relativamente à forma como os diferentes estados europeus vêm o processo de paz.
Eu diria que a melhor forma era ir fazendo. Se estivermos demasiado concentrados em debates que já deveriam estar resolvidos, perdemos a oportunidade. E pior: ficamos à mercê da Rússia, que por muito que possa sair enfraquecida do conflito, já se percebeu que não desistirá de ser um ator internacional importante. Se lermos o Conceito de Política Externa da Federação Russa, publicado no dia 31 de março deste ano, vemos imediatamente que a Rússia olha para a Europa como um rival de facto.
Segundo o documento “a maioria dos estados europeus segue uma política relativamente à Rússia que tem por objetivo criar ameaças à segurança e soberania da Rússia”, que se reserva o direito de “defender consistentemente os seus interesses nacionais” tendo em conta o acima descrito. Esta ameaça russa tem de ser superior às divisões europeias. É uma questão de defesa da nossa forma de vida e até, se tivermos uma visão mais pessimista, poderá vir a ser uma questão de sobrevivência.
Um ano após o início da guerra na Ucrânia, que análise podemos fazer do impacto que a mesma teve no funcionamento e nos objetivos da NATO?
O impacto mais importante e duradouro está relacionado com o facto de agora a NATO ter um inimigo comum declarado, coisa que já não acontecia desde o fim de Guerra Fria. Há evidentemente motivos de desunião, nomeadamente em dois assunto essenciais: como deve acabar a guerra – se os estados devem continuar a apoiar a Ucrânia pelo tempo que for necessário, ou pressionar a Ucrânia para se sentar à mesa das negociações – e como deve ser a relação dos membros da NATO com a China – ainda que esta esteja contemplada no Conceito Estratégico de Defesa da NATO como um “desafio” à estabilidade global, o texto é suficientemente vago para permitir diversas interpretações, que sabemos que existem.
Mas no essencial, espera-se que a NATO se afirme como uma aliança de defesa essencial no espaço transatlântico no que concerne à ameaça russa. Seria essa a lógica e uma parte importante dos membros da Aliança Atlântica gostariam de vê-la evoluir nesse sentido. Veremos se a ideia se consolida. Tem alguma oposição da Turquia e da Hungria. E recentemente percebemos que pode ter alguma oposição da França também, por motivos completamente diferentes.
É uma boa ideia continuarmos a apostar na expansão da NATO para os países da esfera de influência da antiga União Soviética?
Essa pergunta faria sentido antes da Guerra da Ucrânia, porque havia, efetivamente espaço para escolha. Agora já não me parece que haja. A NATO tem mais um membro desde a semana passada, a Finlândia e parece-me que é uma questão de tempo até à entrada da Suécia. Já lhe chamam o “alargamento Putin”.
Suponho que sua pergunta se dirige para estados como a Ucrânia, a Geórgia e a Moldávia, que têm relações conflituosas com a Rússia. Parece-me que a guerra na Ucrânia está a evoluir no sentido do alargamento das fronteiras de segurança europeias até à fronteira russa. Se se confirmar será uma questão de tempo – ainda que possa ser muito tempo – até estes países serem admitidos na NATO.
Uma ressalva. Há um conjunto de livros publicados pouco antes e depois da Guerra que questionam o alargamento da NATO de forma séria, no sentido de considerarem que esse pode ter sido um dos fatores decisivos que levou à Guerra da Ucrânia. Ainda que esse debate seja sério e importante no que concerne às causas, não me parece que seja o debate mais premente nos pós-guerra, pelas razões que referi acima. Ainda que a Rússia vá continuar a fazer o que puder para que a Aliança Atlântica não se estenda.
Com a invasão da Ucrânia, a Rússia violou de forma flagrante a carta da ONU. Mas esta, apesar de todas as condenações morais, demonstrou não ter qualquer capacidade de impor o respeito pelo direito internacional. A ONU sai fragilizada de todo este contexto?
Não me parece. O direito internacional é um direito que não tem expressão punitiva, logo a força da lei é muito reduzida, senão inexistente. O Conselho de Segurança quase nunca funcionou, porque se constituiu muito pouco antes do início da Guerra Fria, e os dois lados do conflito bipolar tinham assento no Conselho.
Quando poderia ter funcionado – durante a unipolaridade americana – os Estados Unidos tornaram a ONU em geral numa grande agência de promoção da democracia e de proteção de termos da democracia americana, bastante radicalizados nos anos 1990. Para tornar as coisas mais complicadas, a administração de George W. Bush desautoriza o Conselho de Segurança quando percebe que não terá a sua autorização para invadir o Iraque.
A ONU tem demonstrado capacidades importantes nas gestões de crises transnacionais, mas no que respeita ao conflito entre estados é muito pouco eficiente. Sempre foi. Quem esperava um papel mais interveniente e decisivo da ONU neste conflito tem de ter um espírito muito idealista. A história diz-nos que o papel das Nações Unidas neste conflito é o mesmo tipo de papel que tem desempenhado ao longo da história.
A sua tese de doutoramento intitula-se “The Democratic West and the Democratic Rest: Searching for the New Liberal International Order”. Quais são os principais tópicos aí investigados? Tendo em conta as recentes movimentações nas placas tectónicas das RI, as suas conclusões ainda se mantêm atuais?
O que se estuda é o declínio dos Estados Unidos e a ascensão da Índia e do Brasil, consideradas à época as “democracias ascendentes”.
Na verdade, as conclusões centrais não só se mantém como os últimos anos as têm comprovado. As potências regem-se mais por fatores identitários e experiências históricas do que pelo tipo de regime. De forma que a existência de uma coligação de democracias – como a que Biden está a tentar erguer – só é possível de se as regras internacionais para o comportamento democrático interno e internacional forem muito menos rígidas. É exatamente o que estamos a ver acontecer. Biden tem uma conceção de democracia muito mais flexível que os seus antecessores, não só porque o sistema internacional mudou – o sistema unipolar ficou para trás – mas porque precisa de atrair aliados que não sejam forçados a modificar as suas aceções do mundo. Por isso é que os EUA têm vindo a dizer que “ordem baseada em regras” tem no seu centro a soberania dos estados, a dignidade humana, a Carta da Nações Unidas. Há dez anos os valores eram muito mais restritivos e exigentes. Por exemplo, uma democracia digna desse nome (e de figurar na coligação ocidental) tinha de estar disposta a defender a democracia e os direitos humanos no exterior. Felizmente, essa forma mais radical de liberalismo internacionalista foi desaparecendo até restar muito pouco ou nada dela. Há autores que dizem que estes conceitos desapareceram vítimas do seu próprio sucesso – liberalismo implica contestação do próprio liberalismo – mas a mim parece-me que desapareceram porque eram uma conceção radical do liberalismo internacionalista que não era, de todo, sustentável, como defendi na altura.
Quais são os seus sonhos e motivações? Para além de uma brilhante analista de política internacional, quais são as suas ambições a nível profissional/político?
Não sou muito de sonhos, sou mais de objetivos. Se pudesse escolher gostava de ler, escrever, pensar, ensinar e ser uma cidadã ativa e responsável até ser muito velhinha. Atualmente, trabalhar na e com a sociedade civil atrai-me mais do que a política partidária. Mas nunca se sabe se isso se manterá sempre assim.
Fernando Santos
Politólogo
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