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Como vencer o populismo


A nossa consciência coletiva tem a fantástica capacidade de olhar seletivamente para a história e escolher a chamada nostalgia do passado como a principal referência. Contudo, um olhar mais analítico ao passado mostra-nos, com uma certa facilidade, que o presente é bem melhor que qualquer passado. E quanto maior for a amplitude histórica, mais esta afirmação é verdadeira.


Basta, por exemplo, olharmos para três simples indicadores: a redução para níveis mínimos de mortes à nascença, graças ao Serviço Nacional de Saúde, a erradicação das barracas na viragem do milénio e as taxas de alfabetização.


No ano em que celebramos 50 anos do 25 de Abril, estes factos, mostram como é diferente a vida hoje em Portugal e de como os portugueses vivem melhor. 


O problema é que vivem melhor, mas muitos ainda vivem com dificuldades. E por terem mais capacidade de perceberem a realidade, sentem essas dificuldades com maior sentimento de injustiça.


E quando essa injustiça é projetada por sectores que são pilares da democracia, o sentimento transforma-se em revolta e o voto, a arma do povo, tem tendência para ser usado apenas como protesto e não como um instrumento democrático de consciência.


Nos últimos meses, temos assistido progressivamente à manifestação de descontentamento de sectores fundamentais da nossa democracia. Na educação, na saúde, na justiça, nas forças de segurança e, agora, de forma, mais subtil, nas forças armadas, os profissionais deram todos os sinais necessários sobre os problemas que os afetam. Contudo, como sempre, há aproveitamentos a montante ou a jusante para subverter o essencial da questão e retirar disso dividendos menos claros, como capitalizar na demagogia do descontentamento generalizado e tentar que isso se exprima no tal voto de protesto.


Mas não podemos confundir aquilo que é a bondade das  razões para a contestação com o eventual aproveitamento indevido que é feito dessa contestação, porque isso semeia, ainda mais, o medo no seio de uma sociedade que já está perigosamente afetada pela exacerbação das fake news, das redes sociais sem contraditório e de uma comunicação social com cada vez menos recursos para fazer o fact-check.


Com a moderação e assertividade que se exigem, o próximo governo de Portugal deve focar a sua atuação na resolução dos problemas destes setores, sem se deixar perturbar pelo ruído mediático e dos populismos dos extremos.


O melhor combate aos populismos faz-se resolvendo as questões de fundo, unindo o que esta dividido e contrapondo às pressões imediatistas uma visão estratégica, moderada e personalista, com foco em resultados e na sua comunicação ao povo português. 


A bem de Portugal, o que se espera a partir de 11 de Março é a inspiração do poder executivo nestas palavras de Padre António Vieira: “Nós somos o que fazemos. O que não se faz não existe. Portanto, só existimos quando fazemos. Nos dias que não fazemos, apenas duramos”.

João Annes

Gestor

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