O território nacional apresenta uma diferença acentuada entre o litoral e o interior. Esta clivagem sem precedentes é o reflexo da falta de procura que há em querer viver no interior. Parece que apenas as áreas metropolitanas são importantes e que os territórios mais rurais foram completamente esquecidos pela grande maioria dos portugueses.
É por isso que devemos lançar uma campanha nacional designada por: "Adote uma aldeia Portuguesa!"
Esta nova campanha tem como base a revitalização de aldeias em espaço rural, através da reabilitação da arquitetura e urbanismo vernacular, na criação de novos postos de trabalho de forma a contribuir para a fixação de novas populações.
Este programa tem por objetivo combater as assimetrias e desigualdades socioeconómicas entre o meio rural e o meio urbano e é um desafio para o equilíbrio do território desabitado espalhado um pouco por todo o Portugal.
Estamos perante uma realidade irreparável, em risco de extinção. Trata-se de um património cultural material que pode desaparecer para sempre.
A recuperação de casas no interior de Portugal vai também ajudar a combater a falta de habitação nas grandes cidades e aumentar a procura por outras zonas habitáveis no nosso território.
Devem ser criadas novas linhas de financiamento (do PRR ao PT2030), cujo objetivo é o de recuperar estes núcleos históricos em novos locais de habitação.
Estas linhas de financiamento devem também promover o emparcelamento de prédios rústicos, bem como o próprio cadastro - que deve procurar uniformizar proprietários, partilhar despesas, investimentos e dividendos, evitando assim, o abandono das terras.
Para ilustrar este artigo, escolhi algumas imagens de uma "aldeia para adoção", localizada na freguesia de Mesquitela, concelho de Celorico da Beira, distrito da Guarda.
São várias as casas abandonadas a chamar por novos proprietários. Estas aldeias esquecidas estão em avançado estado de degradação e abandono e é urgente colocar "mãos à obra" e começar a recuperar!
Mas recuperar com o cuidado de não artificializar de mais este acervo civilizacional que é o passado da ocupação do meio rural nacional. É preciso que os novos investimentos sejam sustentáveis e ecodesenvolvidos.
No caso da Região das Beiras, existem atrações que importa referir, como por exemplo, praticar desporto (ski, BTT, rafting), conhecer lagoas e praias fluviais, experimentar a gastronomia típica da região (queijo, vinho, fumeiro) ou conhecer o cão pastor da Serra da Estrela, fiel companheiro dos pastores da montanha e que protege os rebanhos dos ataques dos lobos.
Esta zona da região centro de Portugal - que é a maior área protegida em solo português - tem tanto para oferecer e fica relativamente perto de Lisboa e do Porto.
Este património de extraordinária riqueza e beleza natural, tem um enorme potencial inexplorado, mas é carente em habitantes. E todos são bem-vindos, inclusivamente os "nómadas digitais", uma vez que há boa internet e serviços básicos.
É um dever patriótico recuperar uma casa numa aldeia portuguesa - até porque os preços estão ainda muito acessíveis, mas só até serem descobertas pelos estrangeiros!
É um pouco do nosso passado que não podemos deixar morrer: "Adote uma aldeia Portuguesa!"
Pedro Fonseca
Arquiteto/Urbanista
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